quarta-feira, 2 de outubro de 2019


Reflexões sobre a ética no futebol: sobre o fairplay e o dinheiro
Barão de Coubertin - Criador dos Jogos Olímpicos modernos e responsável pela difusão do Fairplay



Falar sobre o futebol no Brasil é fácil, já que todo mundo sabe pelo menos do que se trata. A frase “no Brasil, todo mundo é técnico de futebol” expressa bem a força com que esse esporte alcança as pessoas aqui em nosso país. Mas e falar da ética no futebol? O que envolve essa ética? Este texto pretende introduzir o conceito de ética e analisar de que forma essa ética influencia os mais diversos alcances do futebol.

Entende-se por ética quaisquer regras que são dadas de modo normativo. Ou seja, existem normas de conduta que uma pessoa deve seguir que variam de sociedade para sociedade, e que ao agir de acordo com essas normas, fazem com que essa pessoa aja de modo ético. Portanto, falar de ética significa falar de uma ação que é guiada por um padrão construído socialmente. A partir desse conceito, faz-se interessante pensar sobre como a ética “casa” com o futebol nas suas mais diversas partes: durante a partida; na relação entre os jogadores; na relação entre os jogadores e técnico; entre as equipes; com o juiz; com os patrocinadores dos times.
Talvez a manifestação mais expressiva da ética no futebol seja a introdução do “fairplay”. Fairplay significa “jogo limpo” e foi difundido pelo Barão de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos modernos, a partir dos ideais aristocráticos ingleses de lealdade e honra. Bem, a partir dos elementos lealdade, honra e jogo limpo já dá para imaginarmos o que fairplay significa na prática: honestidade na execução da tarefa e respeito pelo adversário. Entregar a bola para o adversário, quando o juiz marca em prol do seu time, é um exemplo bastante comum da prática do fairplay em campo. Outro exemplo menos usual é o jogador assumir quando comete uma falta, pedindo desculpas para o adversário e ajudando-o a se levantar.
A ideia do fairplay é bastante bonita, pois procura tratar o esporte como uma prática lúdica, que remete ao prazer de jogar. No entanto, vivemos em mundo capitalista em que o dinheiro e a profissionalização norteiam essa prática. Você já deve ter ouvido seus pais ou avôs comentando que os jogadores de hoje não têm ética; que bons eram os de antigamente que não pensavam em dinheiro: gostavam de jogar e entravam em campo para ganhar. Ou ouvido sobre o caso do Garrincha que nem queria saber contra quem ele estava jogando. Histórias como essas eram muito comuns e cabiam naquele contexto histórico.
Hoje, com a extrema profissionalização e, junto com ela os super salários, muitos jogadores têm medo de se machucar, jogando de modo mais cauteloso. Alguns até colocam suas pernas no seguro... Mas, voltando ao assunto, é correto dizer que hoje os atletas de futebol não atuam com ética? Se sua análise for racional, perceberá que eles atuam com ética sim, haja vista que fazem tudo o que é exigido deles. O que é preciso lembrar é que atletas são profissionais e que “jogar com o coração”, embora faça o esporte ficar mais bonito e apaixonante, não é uma exigência de contrato e, portanto, a falta com esse item não faz com que o jogador seja menos ético no exercício de sua profissão.
Tudo isso faz com que cheguemos a uma conclusão: o futebol talvez seja o esporte que mais esteja próximo de se tornar uma mercadoria: o jogador é “vendido” ou “comprado”; os preços dos ingressos são abusivos; assim como as camisas oficiais. Nesta época de copa do mundo, o futebol fica ainda mais comerciável: álbum de figurinhas da copa; lanchonete oficial da copa; pipoca oficial da copa; refrigerante oficial da copa; cerveja oficial da copa...
Restam então as perguntas: Qual é a ética existente no uso do jogador como mercadoria? E no uso de um esporte e de um campeonato (como é o caso da Copa do Mundo) como instrumento de marketing é uma ação conduzida eticamente? Enfim, também não tenho respostas, mas vale a pena a reflexão!
Por Paula Rondinelli
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP

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